terça-feira, 18 de agosto de 2009

Altas flores de papel

Paper flower é o nome pelo qual os faladores de Inglês conhecem a buganvília. Quem já teve flores de buganvília entre os dedos compreende a justeza da designação. Isto vem a propósito de uma das minhas árvores preferidas de Lisboa, na Rua Luciano Cordeiro.



Houve um tempo em que só passava debaixo dela e, perto da Primavera, cheirava-me às flores da mimosa. Tenho a certeza que, se pudesse atravessar o muro que nos separa, descobriria um emaranhado de, pelo menos, três espécies de indivíduos verdes. Assim me fazem supor os três troncos visíveis ao nível do solo. As flores mais altas parecem, todavia, ter a consistência do papel, a cor parece-se muito com a cor das flores da buganvília e, como arbustos e árvores se distinguem mais pela dimensão do que pela espécie, sou tentada a acreditar que a Rua Luciano Cordeiro guarda uma pérola.



Ainda assim, chamar buganvília a uma árvore da altura de quatro ou cinco andares parece-me arriscado. Creio que, como boa trepadeira que é, esta buganvília trepou.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Largo Agostinho da Silva


A chegada ao Largo Agostinho da Silva pela Praça das flores e ainda uma nesga da rua Marcos Portugal. É um Largo que se eleva, para poder estar direito, entre o sobe e desce desta colina. Gosto do painel de azulejos.



Este é o primeiros de muitos fontanários que Lisboa nos vai oferecer. Em quase todos a mesma característica: ausência de água. Por um lado compreendo: hoje já ninguém vai à fonte buscar água para subsistência. Serviria apenas como prazer estético. Por outro, esse é um prazer que faz muita falta à cidade. É pena os fontanários não estarem bem preservados e cheios de água.



A elevação do Largo Agostinho da Silva permite olhar melhor para os prédios da Rua Marcos Portugal que passa por ele, subindo, em direcção à Rua da Imprensa Nacional. Estes que aqui ficam nesta fotografia estão todos bem conservados e mostram bem as toadas de cores características dos prédios antigos de Lisboa.



Pormenor do Largo com um dos seus grandes mistérios: ao fundo, fechado há muitos anos, um restaurante que tem tudo para dar: beleza do local, espaço para esplanada, tranquilidade. Descontando o crónico problema de estacionamento (mas há opções), este é um negócio há espera de ser recuperado.



O Largo Agostinho da Silva é um dos meus topónimos preferidos de Lisboa e foi para mim uma surpresa quando, há alguns anos, descendo a Rua Marcos Portugal reparei que aquele pequeno largo, perto da Praça das Flores tinha sido baptizado com o nome do filósofo português. As "Sete Cartas a um Jovem Filósofo" é um dos livros da minha vida.

domingo, 8 de março de 2009

Rua da palmeira


Comecemos pelo fim: a rua da palmeira acaba na Praça das flores, começando numa outra praça, a do Príncipe Real. Ali, ao fundo, à direita está a Praça das flores. E, para trás, é sempre a subir.


À medida que vamos subindo os prédios vão subindo connosco. Gosto nesta fotografia do secreto prazer (agora partilhado) de saber que aquele toldo em baixo, à direita, pertence ao bom restaurante Frei Contente.


A rua da palmeira conta com alguns bons restaurantes. Para além do Frei Contente (que tecnicamente está na rua de São Marçal) e do Terra, que fica lá para cima, existe o Trivial. Restaurante que não engana, sobretudo no que toca a bifes. Se é para comer bem, num ambiente acolhedor, é Trivial.


Um edifício recuperado na rua da palmeira. Não é preciso complicar, só é preciso recuperar. Este é um dos meus edifícios preferidos da rua.

A rua da palmeira é uma distribuidora de jogo. Aqui vemo-la a dividir a sua passagem com a rua Ruben A. Leitão, que fica para a direita; com a rua Cecílio de Sousa, que não se vê mas está ali para a esquerda e com a rua do jasmim, que segue também para a esquerda, um pouco mais acima.


A rua da palmeira conta com um restaurante vegetariano. Fica mesmo na última curva de quem vai subindo em direcção à praça do Príncipe Real. Para além da comida recomenda-se o jardim.


Se na rua da palmeira há prédios recuperados também há prédios barricados à espera de melhores dias, que habitantes não hão de faltar...



Quando tiver tempo hei-de ir procurar a história da numeração dos bairros de Lisboa, a fazer lembrar os arrondisements parisienses. O início da rua da palmeira, na Praça do Príncipe Real, indica a letra pequenas, dentro de parentesis, que estamos no 3º Bairro de Lisboa.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Avenida João Crisóstomo

Inicio o Trilhar Lisboa, num dia de Inverno soalheiro, com a Avenida João Crisóstomo, que começa na freguesia de São João de Deus e acaba na de Nossa Senhora de Fátima e é rematada por dois jardins – do Arco do Cego e da Fundação Calouste Gulbenkian.

Deixo para trás o Instituto Superior Técnico e começo o meu percurso pelo jardim do Arco do Cego, que um dia foi casa de um terminal de autocarros cinzento e poluído. Talvez por isso seja desvalorizado por muita gente, mas desenganem-se os mais cépticos, porque hoje este espaço alberga um jardim bem agradável, utilizado para pequenos piqueniques, jogar à bola, sestas à hora do almoço ou simplesmente pausas do trabalho.

Continuo a passear pela avenida e vou apercebendo-me da sua riqueza, não só em termos de arquitectura (os prédios do princípio do século passado misturam-se com os mais modernos, nomeadamente com condomínios privados propositadamente discretos), mas principalmente em termos de serviços e comércio.

Passo por estabelecimentos de todo o tipo, boutiques, lojas de decoração, papelarias, restaurantes e cafés, institutos de beleza, oficinas, lavandarias. Passo por sedes de serviços públicos e de empresas privadas. Passo até por um casino. Vejo carros topo de gama a entrar nas garagens.

Vou cruzando, primeiro a Avenida da República, depois a Avenida 5 de Outubro.

Sinto o movimento, as pessoas, a vida na cidade, mas claro, é dia de semana, muito diferente deverá ser esta avenida quando o comércio e os serviços fecham as portas, os trabalhadores regressam a casa e o barulho dos carros e dos autocarros dá lugar ao silêncio, para bem de quem cá mora.

E, assim, com todos estes pensamentos e sensações, aproximadamente 1 Km depois, chego aos muros do jardim da Fundação Calouste Gulbenkian. Não revelo que está por trás deles. Isso deixo para outros, ou para outra ocasião.

Praça das Flores

1. Esta é a minha primeira Praça das Flores: a vista de quem chega descendo a rua Marcos Portugal. Apesar de já conhecer a Praça antes, foi quando vivi na Rua Tenente Raul Cascais (a do Teatro da Cornucópia), que pude passar a viver a Praça das Flores. Ora, a minha porta de entrada era exactamente o que esta fotografia mostra. Além disso contém dois bons pormenores: o símbolo do restaurante Porco Preto - que é óptimo (embora, tecnicamente, ainda esteja na rua Marcos Portugal) - e a placa do Largo Agostinho da Silva, um dos meus autores preferidos.




2. Tirando os carros há duas coisas que gosto muito nesta fotografia: o quiosque, que em breve será reaberto para um projecto de Catarina Portas, onde venderá refrescos e comidas típicas de Lisboa, como sandes de queijo com marmelada (!); e a confluência dos dois lados da Praça em que pode passar carros. Neste local, já no cruzamento com a rua de São Marçal e no início da rua da Palmeira, conseguimos ver a Praça das Flores como uma bifurcação, que tanto pode ser sinal de separação - cada um para seu lado - como, para os mais indecisos pode ser uma boa desculpa para não ter que escolher e ir a direito, pela Praça dentro. Não é uma má hipótese: ao fundo no Pão de Canela, os queques de mação são um segredo famoso (passe o paradoxo). Embora eu prefira os Jesuítas. Quando há.





3. O Jardim da Praça das Flores tem um nome esquecido: Fialho de Almeida. Não sei como se foi perdendo este nome mas creio que é tempo de relembrá-lo. Afinal o autor do País das Uvas doou à cidade este belo jardim. Além disso é um emérito filho de Vila de Frades, no concelho da Vidigueira, região de onde é a minha família paterna.


4. A maior parte da Praça das Flores consigo ver da minha janela. Além disso, esta foi a primeira foto que tirei a pensar no Trilhar Lisboa. Tem ainda o travo especial de ali pelo meio estar a minha fiel vespa.




5. Ao entramos na Praça, vindos da Marcos Portugal, deparamo-nos com a esplanada do Flor de Sal, à direita (e pode notar-se, por cima, a placa do Porco Preto), e ao fundo pode ver-se a esplanada do Pão de Canela, essa verdadeira instituição da Praça das Flores.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Trilhar Lisboa, o início

O Trilhar Lisboa começa hoje. A minha ideia, para a qual estão todos convidados, é mapear Lisboa da melhor forma possível: andando nela, fotografando-a, filmando-a, escrevendo sobre ela. Deixando-a inspirar-nos. Sem stresses e sem pressões. Lisboa tem das toponímias mais ricas que conheço. Não se limita às ruas, avenidas e praças. Há também os largos, as travessas, as pracetas, as alamedas, os cunhais, as escadinhas, as calçadas e tenho a certeza que me estou a esquecer de algumas. Um dos objectivos do Trilhar Lisboa é que não deixemos escapar nenhum destes nomes que fazem de artérias de Lisboa. Por isso para cada um deles a ideia é juntar fotografias tiradas por nós e histórias, que podem ser tudo desde a experiência do dia em que tirámos as fotografias, passando por curiosidades históricas até um simples poema.

Como é que vamos fazer isto? Bem, para já existe este blog. Mas também um grupo no Facebook, uma conta no Panoramio e um grupo no Googlegroups. Eu e a restante equipa (que vai sendo divulgado, na medida em que neste momento sou só eu...) vamos garantindo que todas as fotografias e histórias que forem colocadas numa plataforma serão tranferidas para as outras.

O céu de Lisboa, com o chão por baixo, é o limite!

Venham daí Trilhar Lisboa!